Viajar pelos vinhos

Algumas viagens rimam com vinho. Mais até do que isso, sem o vinho algo do espírito do lugar se perde.

Toscana, Puglia, Piemonte, Borgonha, Bordeaux, o que esses destinos têm em comum? Talvez o fato de que além das paisagens, dos museus, dos monumentos, a comida e o vinho e, é claro, o ambiente e os cenários que ajudam a criar, vão construir lembranças inesquecíveis de viagem!

Reunimos algumas dicas para ajudar você a viajar também pelos vinhos que dão cara e alma para essas regiões. Prepare-se, há muito que experimentar!

Alguns dos melhores e mais caros vinhos da Itália vem das vinhas plantadas nas colinas de Montalcino, mas ninguém na Toscana fica sem uma garrafa de…Chianti! Originalmente, os “chiantis” eram vinhos rústicos, sem complicações, para acompanhar as lautas e generosas refeições do dia a dia. Hoje existem Chiantis e Chiantis. Experimente todos.

Mas se quiser ir se aprofundando na experiência, comece procurando pelos que são rotulados como Classico, Riserva ou Classico Riserva (os tops de linha). Aí preste atenção nas DOCs. A primeira DOC (Denominazione di Origine Controllata) Chianti foi criada em 1716, para designar os tais vinhos rústicos, que acompanhavam tão bem os ricos e variados pratos da cozinha regional. Mais recentemente, em 1984, foi criada uma DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita) Chianti, com regras muito mais rigorosas.

As regras para produção de vinhos na Itália, como em outros países, nem sempre são fáceis de entender. Uma forma de se orientar em meio à tanta oferta e escolher qualidade é preferir rótulos que tenham saído das barricas de vinícolas tradicionais como Antinori, Badia a Coltibuono, Fiore e Querciabella. Aí não tem como errar, mas não espere abrir uma garrafa bojuda coberta de palha, daquelas que enfeitam as cantinas aqui no Brasil. A maior parte dos “chiantis” hoje dispensa os tradicionalíssimos “fiascos”. Concentre-se no vinho!

Em algum momento da viagem, talvez você se encontre sentado em um pequeno “ristoranti”, protegido sobre uma pérgola coberta de vinhas, a vista das colinas riscadas por fileiras de ciprestes diante de você, e prestes a provar uma “bistecca alla fiorentina”. Não pense duas vezes, escolha um Brunello de Montalcino. Tão famosos quanto os Chiantis, mas com uma certa aura de nobreza, os Brunellos também são produzidos com a típica uva da Toscana, a Sangiovesi. As diferenças são muitas, mas basicamente, enquanto os Chiantis são blends de Sangiovesi (mínimo de 70%), os Brunellos são varietais, feitos exclusivamente com uma variedade dessa uva que nasce justamente nas colinas de Montalcino. O top dos Brunellos? Os vinhos de Gianfranco Soldera, raros e caros.

Produzidos a partir da mesma variedade de Sangiovesi, mas muito mais baratos você encontra os Rossos di Montalcino. Por que mais baratos? Os Brunellos devem envelhecer durante pelo menos 4 anos antes de serem comercializados, pelo menos 2 em barricas de carvalho. Os Rossos, precisam envelhecer apenas por 1 ano em carvalho, e, como consequência, têm menos madeira, menos taninos, são mais leves e frutados. Você encontra bons rótulos dos produtores: Biondi Santi, Altesino e Podere La Vigna, entre outros, claro!

E chegamos neles, os Supertoscanos! Elaborados com variedades não tradicionais e estrangeiras, como Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, eventualmente, combinadas com Sangiovese, são vinhos modernos, complexos e ricos. Um pioneiro desta “rebelião” dos produtores contra as regras que consideravam ‘rígidas’ demais das denominações tradicionais, foi Mario Bolgheri, da Tenuta San Guido, produtor de um dos mais famosos vinhos italianos, o Sassicaia, um blend de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Outro Supertoscano famoso é o Ornellaia, da “tenuta” de mesmo nome, um blend de Cabernet Sauvignon e Merlot. E o Masseto, um supertoscano feito 100% com Merlot. Entre os 5 grandes, inclua também os dois rótulos de Marchesi Antinori, o Tignanello e o Solaia. Quer uma alternativa mais barata? Gosto do A Sirio, da Vinícola Sangervasio. Em comum, o que todos têm é serem belíssimos vinhos italianos, com alma francesa.

Puglia: beber bem no salto da bota

Longe da Toscana, onde o salto da bota mergulha no Mar Mediterrâneo, fica a Puglia. A região é tradicional produtora de vinhos. Recentemente, no entanto, foi incluída entre as top regiões vinícolas do mundo. E, de fato, vem se reinventando para valorizar ao máximo os varietais produzidos com variedades nativas ancestrais, como a Negroamaro, famosa pela bela cor e que cria vinhos complexos, com aromas bem típicos de frutas vermelhão-escuras, ou a Primitivo, que produz um vinho encorpado, mas com taninos macios, muito aromático e fácil de beber.

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Saindo da Puglia e viajando em direção ao norte, você chega ao Piemonte. Se tudo na Puglia é rústico, no Piemonte a Itália é pura sofisticação. Tem quem jure que aqui é o berço dos vinhos finos italianos. Embora a afirmação seja discutível, é de lá que saem os famosos Barolos e Barbarescos, elaborados com a uva Nebbiolo. Ambos são vinhos de longa guarda, que melhoram com envelhecimento, potentes e complexos. Procure pelos rótulos da família Ceretto, de G.D. Vajra, Elio Altare, Michele Chiarlo, Luciano Sandrone, Elio Grasso.

No segundo pelotão dos vinhos do Piemonte, você encontra os Barbera, produzidos com a uva de mesmo nome, a mais comum da região. Originalmente, eram os vinhos do dia a dia das mesas, hoje sua acidez natural está sendo mais e mais valorizada. Os Dolcettos completam a quadra de vinhos do Piemonte. São vinhos com baixa acidez, frutados, e com teor alcoólico alto. Explosivos! Os mesmos produtores de Barolos e Barbarescos têm rótulos de Barberas e Dolcettos, fique de olho!

Mantenha o rumo a noroeste e em algum momento você vai chegar na França. Começamos pela Borgonha, um minúsculo pedaço de terra que na opinião de muita gente (eu, inclusive!) produz os melhores vinhos do planeta. Tudo em mínimas quantidades, demanda altíssima e preços estratosféricos. Apenas duas variedades de uvas são usadas para criar os vinhos da Borgonha: Chardonnay, para os brancos, e Pinot Noir, para os tintos. De modo geral, são vinhos leves, delicados, equilibrados e complexos. Se quer experimentar os tops da região, procure pela apelação Grand Cru no rótulo. Só 33 tem o privilégio: Romanée-Conti (claro!), Montrachet, Musigny, Corton, Chambertin…

Abaixo deles vem os Premiers Crus, mas não imagine que a qualidade, nem o preço! Para garantir sua escolha, leve em conta os produtores: Romanée-Conti, Armand Rousseau, Domaine Dujac, Leflaive e Ramonet. Mais para o sul e com preços um pouquinho mais acessíveis eu experimentaria vinhos das apelações (AOC): Ruly, Macon e Mercurey.

Deixamos Bordeaux como último destino da lista. Para alguns, faz todo sentido, mas atrás apenas da Borgonha, certo? A terra dos Châteaux, dos vinhos elegantes, potentes e encorpados, aristocráticos, diriam muitos. Em Bordeaux você experimenta variações infinitas do blend mais famoso do mundo do vinho: o corte bordalês. Uma combinação de Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc. Para provar os tops, busque Premier Grand Cru Classés no rótulo: Château Haut-Brion, Château Lafite-Rothschild, Château Latour, Château Margaux, Château Mouton Rothschild.

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Em seguida (lembrando que esse segundo escalão não tem a ver com qualidade) vem os Grand Cru Classés e aí a escolha é um pouquinho mais ampla: Château Cos-d’Estournel, Château Ducru-Beaucaillou, Château Pichon-Longueville, Château Palmer.

Para você não desanimar, nem tudo em Bordeaux são os grandes châteaux da classificação de Napoleão. Os Crus Bourgeois, são belos vinhos, mas que por razões que ficam para uma próxima conversa não são rotulados como Grand Crus Classés. Evidente, com preços muito mais razoáveis! Alguns nomes para ir atrás: Sociando- Malet, Chasse-Spleen, Haut-Marbuzet, Potensac.
Boa viagem!

Texto de autoria do Ricardo Bohn Gonçalves, em parceria com a Auroraeco.

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