A Amazônia tem uma força poderosa que se revela em dimensões que vão para além da visão. Na umidade nos poros, no sabor das frutas, no cheiro da chuva chegando ou no canto estridente de um pássaro distante. Tudo impressiona a quem está com os sentidos abertos na Grande Floresta. Porém, existe algo nessa imensidão verde que fascina mais do que o ambiente em si: os humanos.
Como tivesse um poder sobrenatural de fazer dos humanos ainda mais humanos, a floresta amazônica revela uma faceta individual que poucos lugares conseguem. E não estamos falando apenas daqueles que vivem na mata. Isso fica evidente quando se embarca a bordo do Navegar é Preciso. Ainda mais com um convidado com o peso simbólico de Lars Grael.
O cruzeiro literário da Auroraeco em parceria com a Livraria da Vila chega à sua 10a edição entre os dias 27 de abril e 1 de maio de 2020 rabiscando as águas do Rio Negro. Saindo e retornando a Manaus, a jornada parece um desafio ao tempo-espaço e traz em sua raiz o dom de criar vínculos e potencializar a força das histórias. Seja as que estão impressas nas páginas e linhas das centenas de livros a bordo, como as que saem dos bate-papos formais e informais.
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Medalhista olímpico em Seul (1988) e Atlanta (1996), Lars Grael se juntará a outros dois escritores já confirmados, Mario Sergio Cortella e Michel Laub. Talvez você não saiba, mas o autor de A Saga de um Campeão e coautor de Um líder para os nossos tempos (com Eduardo Ohata), tem um leque de histórias enormes para dividir. Dentro e fora das águas.
Ao longo dos cinco dias de Navegar, a dinâmica dos debates – leves porém intimistas – alternados com desembarques na floresta e em comunidades ribeirinhas, acaba gerando vínculos fortes. É nesse contexto que Lars dividirá com todos a bordo alguns episódios de sua trajetória repleta de glórias, dores e superação. Em 1998, depois de sofrer um acidente que lhe amputou a perna direita, teve de reaprender a viver.
Dedicado a várias causas – de voluntariado a saneamento básico –, passou a ser visto como um exemplo de superação não apenas no esporte, mas para todo o Brasil. Claro, você já deve ter escutado sua história na televisão. Entretanto, é tão bonito ouvir de perto as percepções e aprendizados de alguém que se revela tremendamente humano, em suas fraquezas e limitações. Mas que enxerga na troca com os outros uma chance de motivar e inspirar as pessoas a se empenharem por um mundo melhor.
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Por sinal, é muito nessa linha que vai sua biografia, escrita em parceria com o jornalista esportivo Eduardo Ohata. Todo calcado em memórias do esportista, Um líder para os nossos tempos (2015) é baseado em momentos vividos ao longo de seus 55 anos. Um apanhado repleto de reflexões sobre os principais acontecimentos. Claro, o dia do acidente há mais de duas décadas, bem como todo o processo de recuperação e de relação com a nova condição são abordados com detalhes por vezes doloridos. Publicado três anos depois do acidente, A Saga de um Campeão (2001) é uma narrativa ainda fresca e muito contundente do impacto da perda da perna e da sua nova realidade.
Certamente um punhado de relatos riquíssimos que se juntarão a outros tantos. Mesmo com apenas três convidados confirmados, já fica bem nítida a diversidade da programação. Não há dúvidas de que embarcar no Iberostar Grand Amazon após já ter lido um pouco cada autor só enriquece a experiência do viajante. Ter diante de si alguém que já colocou em palavras escritas as suas ideias transforma e torna o horizonte de quem o escuta um tanto mais complexo. Essa familiaridade pode mudar a experiência por completo.
Por exemplo, o filósofo e escritor paranaense Mario Sergio Cortella traz para o evento mais do que um toque professoral. Mestre e doutor em Educação, por 35 anos atuou como professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Sua visão de mundo e riquíssima bagagem profissional, que inclui trabalhos com o educador Paulo Freire e diversos livros publicado, engrandecem o tom dos debates. Sua voz grossa e cadência marcante embalam palestras Brasil afora, além de bancada de programas na Rádio CBN e no Jornal da Cultura, da TV Cultura.
Ou seja, já temos um professor e um medalhista olímpico que empunharão seus microfones. Contudo, é elementar que num cruzeiro literário tenhamos ao menos um romancista. Afinal, a realidade ao redor pode – e deve – ser lida de maneiras plurais e criativas.
Nascido em Porto Alegre, em 1973, Michel Laub ergueu sua carreira empilhando palavras e lapidando narrativas. Os sete romances publicados pela Companhia das Letras, uma das mais renomadas editoras brasileiras, ajudam a sustentar o pilar de que está entre os grandes autores brasileiros contemporâneos. Com direitos vendidos para o cinema, duas de suas mais recentes obras – Diário da Queda (2011) e O Tribunal da Quinta-Feira (2016) – são leituras intensas e vibrantes. Já traduzido em 10 idiomas e publicado em 13 países, Laub já abocanhou diversos prêmios mundo afora e tem se debruçado em questões sobre realidade digital e a ética na vida urbana. Enfim, essa décima edição do Navegar É Preciso promete. E muito.
