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Atacama: delírio ou realidade? Um pouco de cada co...

Atacama: delírio ou realidade? Um pouco de cada coisa, ainda bem

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Um sonho chamado Atacama

Já passava das nove da noite de um dia na semana passada quando caminhávamos numa passarela de madeira iluminada suavemente por luzes baixinhas. Ao fundo, o observatório particular do hotel, um domo iluminado de vermelho que abria uma fenda para o céu. Antes de entrarmos, um dos guias apontou com um potente laser para cima. Erguida a quase noventa graus, a cabeça acompanhava os traços verdes apontando planetas, estrelas e constelações. Meus olhos nunca viram um céu daqueles. E era apenas a primeira noite no explora Atacama.

Estava começando a entender o que nos esperava nos próximos dias. Mais cedo, no jantar, um saboroso corte de cordeiro com legumes da região harmonizou brilhantemente com uma taça de um excelente carignan do Valle del Maule. A ótima contemplação estelar apenas anunciava a deliciosa noite de sono a caminho. No rústico aconchego luxuoso encontrei o descanso mais do que merecido.

Pela manhã já tinha um belo plano traçado. Aliás, é importante explicar a dinâmica das excursões, de meio período ou dia inteiro. A cada anoitecer os hóspedes se reúnem individualmente com guias na chamada Sala de Explorações, um ambiente inspirador, forrado de mapas e fotos. Ali os experts da região, que vieram de todas as partes do mundo, apresentam muitas das quase 40 opções de passeios operados na região. Contando um pouco sobre os tours que fiz você compreenderá a diversidade deles e o quanto é possível customizar seus dias sob medida.

Saiba mais: Como aproveitar ao máximo o explora Atacama

Depois de entender o perfil dos viajantes, são elaborados conjuntamente planos para o dia seguinte e até mesmo estratégias mais sofisticadas para os próximos. Afinal, o hotel fica nos arredores da pequenina cidade de San Pedro de Atacama, a 2.408 metros de altitudes, mas há explorações que podem até ultrapassar os 6 mil metros, como é o caso da ascensão à cratera do Vulcão Licancabur. Porém, para objetivos ousados como esse é preciso seguir um planejamento de aclimatação progressiva à altitude. Enfim, cada caso é um caso e os guias têm muita expertise para fazer uma curadoria mais do que adequada.

Caminhadas, trilhas de bike e até cavalgadas fazem parte da grande variedade de atividades. Mesmo cansados do longo dia de voo acabamos optando por uma pedalada na zona de Catarpe. Conhecido também como Quebrada de Chulacao, o cânion a cerca de 6 quilômetros do hotel vai se fechando numa garganta estreita por onde se pedala sem muito esforço. Um mirante é aquela cereja do bolo, num cenário que parece de mentira. De volta ao hotel, um total de 18 quilômetros pedalados logo cedo, sem calor excessivo e com uma ótima dose de endorfina.

Cavalgada no Atacama

Parada para o almoço, e que almoço! As refeições no explora são verdadeiros rituais de purificação do paladar, com a descoberta de novos sabores e texturas. Um sem fim de ingredientes da região e de todo o país são utilizados em receitas executadas com maestria. Numa espécie de alta gastronomia despojada, tudo parece fazer sentido, sem exageros. Também na ponta do garfo a curiosidade é a força motora do explora.

Ao fim do primeiro dia ao ar livre, seguimos até a pequena cidade de Toconao, primeiro assentamento espanhol na região. Minúscula, mas com uma eficiente rede de pequenos canais de irrigação, conseguiu efetivar-se como um polo agrícola numa zona desértica. Romã, milho e outros grãos estão entre os produtos mais cultivados. Vale muito pela cênica pracinha, com uma igrejinha (caindo aos pedaços, é verdade)erguida em 1750.

Dali, mais meia hora até a Laguna Chaxa (pronuncia-se “Chacsá”), em meio ao Salar do Atacama, em zona que o explora chama de Cuenca del Salar. O pôr do sol com uma revoada de flamingos passando por sobre nossas cabeças foi daqueles de não querer esquecer nunca. Na volta para o carro, uma surpresa típica do explora: uma mesa de queijos e frios, além de frutas chilenas fresquinhas. E um brinde para celebrar aquele entardecer.

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No dia seguinte, escolhemos pedalar novamente, mas com uma diferença: altitude. Após um trecho de uma hora de van, começamos a pedalar a 3.600 metros por cerca de 23 quilômetros – grande parte montanha abaixo – até o surreal Valle Arco Íris. Como o nome sugere, nesse lugar, a 3.200 metros, criou-se uma composição de minerais coloridos que dá uma palheta de tons que vão do verde ao roxo nas montanhas. Sem contar os formatos malucos: dinossauros, cachorros e aves. Sim, a imaginação é uma aliada no Atacama.

À tarde, uma imersão por um dos cartões-postais mais famosos: o Valle de la Luna. Ou melhor, passamos por ele – sempre repleto de excursões de turistas – e seguimos até um ponto reservado apenas para o explora Atacama. Do alto da Cordillera de la Sal avistamos um mar de vulcões, como o Licancabur e o Lascar. Descendo uma imensa duna alcançamos Kari, um cânion sem igual. Durante milhões de anos os ventos e as raras chuvas (geralmente me fevereiro) depositaram aqui toneladas de sal. Cristalizado, entranhou-se na argila e ganhou formas peculiares. Um dos momentos mais emocionantes foi quando o grupo ficou em silêncio para escutar o som dos cristais a craquelar diante de um paredão onde o som ecoava.

Na véspera já havíamos estabelecido um objetivo: alcançar o cume do Cerro Toco, a 5.604 metros em nosso último dia. Ou seja, os próximos passos levariam em consideração a aclimatação. E assim nosso terceiro dia era praticamente um teste: Rio Blanco. Após chegarmos aos famosos Geiseres del Tatio, terceiro maior campo geotérmico do planeta, desviamos dos outros visitantes para uma trilha exclusiva. Passaríamos as próximas 5 horas sem ver mais ninguém. Uma dessas atividades bem com a cara da Auroraeco e do explora.

Após descer para o vale do rio, víamos brotar gêiseres pequeninos com água a mais de 80 graus descendo por sobre pequenos organismos de cores laranja e verde. À medida em que o rio ganhava força, a água doce se misturava à quente que brotava. E assim ganhamos uma jacuzzi particular antes do nosso almoço. Acabamos não visitando as famosas Termas de Puritama – de concessão do explora – mas nosso guia Danny nos confessou que a exclusividade daquele instante era ainda mais única. Seguimos por entre vicunhas – espécie de camelídeo selvagem – e vizcachas, uma lebre do deserto, até a van, ao longo de 8,4 quilômetros de caminhada a 4.200 metros. Sem mal estar e bem dispostos, fomos aprovados para nosso objetivo no dia seguinte: Cerro Toco!

A ordem era clara: agasalhar-se muito bem, pois a previsão indicava ventos de até 50 km/h. Com duas camadas nas pernas e quatro no tronco partimos do hotel (2.408m)  às 8hs por uma hora de carro até 5.200m. No caminho, bebe-se muita água e a hidratação é o principal mandamento. O passo é lento, o ritmo na altitude é devagar e constante, progressivo. As pedrinhas soltas foram se tornando obstáculos fáceis e aos poucos, depois de duas horas, estávamos a 5.604 metros acima do nível do mar, no alto do Cerro Toco, um dos mais de 3 mil vulcões chilenos. Após tirarmos muitas fotos do horizonte – que alcança até a Bolívia! – descansamos para um retorno suave, apesar da ventania. De volta ao explora Atacama, a certeza de que o lugar nos retribuiu todo o carinho que sentimos.

Atacama ou quem sabe, Salta, na Argentina? Escolha seu próximo roteiro

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