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A Amazônia da navegante Silvia Bernardi

A Amazônia da navegante Silvia Bernardi

O Navegar é Preciso é um projeto especial, sem dúvida. Prova disso é a inspiração que ele causa sobre os viajantes. Novamente, participantes do evento sentiram-se compelidos a transformar vivência em palavras. Abaixo, você encontra o texto da passageira Silvia Bernardi, que esteve presente no evento em 2016. Em outro post do blog, leia também o texto escrito por Raphael Montes, convidado da sexta edição do Navegar é Preciso.

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Amazônia
Por Silvia Bernardi

Um abraço verde, quente e úmido. Assim é a vida naqueles 5,5 milhões de km², onde é possível encontrar um terço de toda a madeira tropical do mundo.

O nome, segundo a lenda, é uma referência às índias guerreiras da tribo icamiabas que, como Amazonas (mulheres guerreiras da mitologia grega) guerrearam e derrotaram invasores espanhóis em uma batalha em 1541. Assim, o “país das Amazonas” transformou-se em Amazônia. Encorpada e sinuosa, a floresta segue recortada pelo mais extenso e caudaloso rio do mundo, com seus mais de 100 afluentes.

Na Amazônia nada é tímido, tudo é colossal. Loucura invadir por conta tamanha sacralidade. Para adentrar sua mata, só com permissão dos deuses e de olhos atentos. Sua língua é para poucos. Nas tribos e etnias o alfabeto é ancestral. Colhem da floresta apenas a vida que cabe no hoje. O amanhã é longe demais pra carregar.

O dia chega lento, manso, desviando obstáculos. A vida por ali é perene e acompanha o ciclo da água que invade e alaga a floresta para depois retornar, devolvendo o chão engolido. No lugar de resistência, apenas resiliência.

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Rio Negro e Solimões se farejam, encontram, roçam, sem jamais se misturar. Devoção e respeito deslizando lado a lado. Lá até água anda de mãos dadas. O mergulho no Negro é em completa escuridão. Nas suas águas é preciso entrega. Um batismo de sentidos com abraço de Deus.

A vida chega perto, sem medo, em forma de cor. O boto rosa é lindo e está logo ali, à distância do toque e da coragem. Vem inspecionar o visitante. Outros olhos emergem curiosos. De jacaré, à espreita. O medo se encolhe pra espiar a beleza.

No alto e do alto, um mundo pendurado que passeia na Preguiça, salta pelos galhos com filhote nas costas e voa com as nossas cores. Tudo é equilíbrio. E isso é o que mais impressiona. A harmonia não mora na igualdade, mas na diferença. Em cada espécie e espaço que se juntam pra virar todo. Em cada ser, essencial em sua desimportância. Na floresta, a vida não termina. Sobe, desce, desliza, se transfere e vai brotar de novo.

Na Amazônia é assim. Quem mergulha em suas águas e passeia em suas matas não se vai. Passa a ser semente.

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Fotos: Ilana Lichtenstein

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